domingo, 1 de outubro de 2017

Muitos acreditam não haver contradição entre ciência e religião, porque enquanto a ciência investiga o mundo natural, a matéria,a religião cuida do sobrenatural, a alma. Os problemas entre uma e outra surgem quando uma hipótese cientifica é afirmada como verdade absoluta em oposição a dogmas da fé, como por exemplo, a crença difundida pela Igreja na Idade Média de que o sol girava em torno da terra e houve uma comprovação cientifica de que era exatamente o contrário, ou seja, a terra gira em torno do sol. Sempre que uma ou outra ultrapasse a fronteira existente entre mundo natural e sobrenatural ocorrem às divergências.

A visão do mundo natural, pela óptica científica,  e a visão  do espiritual mundo,  pelo aspecto religioso,  são maneiras diferentes de vê o mundo, a realidade. Ambas são necessárias. A visão espiritual do mundo atende a uma necessidade da subjetividade humana. Grande parte dos dogmas religiosos são frutos de interpretação literal e ou equivocados de textos bíblicos e que dão margem aos conflitos entre ciência e religião.


 

A religião tem um papel importante para o ser humano, seja no seu contexto social e histórico, no desenvolvimento das civilizações passadas, atuais e futuro. Mesmo que muitas vezes ela seja considerada como uma criação do homem  para diminuir a angústia, a incerteza do futuro, mesmo que para muitas pessoas seja uma derivação fantasiosa, ou uma ilusão, criada para responder às questões inexplicáveis sobre a vida, é clara a sua importância no desenvolvimento de uma sociedade, principalmente, como uma forma de controle social, o que muitos entendem como uma forma de castração, impedindo o homem de se expressar de forma natural, dentro daquilo que lhe é instintivo.

A crença no transcendente sempre esteve presente na vida humana. À medida que se iniciaram as indagações sobre o mundo e o sentido da vida, essas inquietações,  quando não encontravam respostas no mundo físico, encontraram no transcendente as explicações e justificativas em relação ao sentido da vida e do mundo. Essa relação do homem com o sagrado, a fé em Deus, motiva afetivamente as pessoas, independentemente de denominações religiosas. A fé faz com que a pessoa tenha esperança de que algo melhor estar por vir, sendo muitas vezes as decisões encorajadas pelo fato de se ter fé, esperança e acreditar em Deus, fazendo assim, com que tenha a motivação de seguir em frente. A fé impulsiona o homem a  encarar o mundo de maneira positiva e esperançosa, motivando o ser humano a viver em harmonia e aliviar a grande carga emocional que carrega. A fé dá sentido aos valores da  vida,  dando significado à  existência, a fé conforta.
 

A teoria da evolução e a teoria do surgimento do Universo, o Big Bang, não excluíram a fé na existência de Deus, isso porque é possível argumentar que  a base do criacionismo é a existência da alma. O corpo, sendo matéria, pode ser originário da matéria viva preexistente, a alma, contudo, não tem origem por evolução, mas por criação direta de Deus; sendo espiritual, ela não vem da matéria evoluída e por outro lado, não há nada que comprove que a matéria inicial da qual surgiu a evolução não tenha sido criação de Deus, que deu a alma ao primata evoluído.





A ciência moderna levou o homem ao conhecimento e domínio da técnica, a  matemática se tornou a base, justificativa o elemento quantificador da vida e do saber, como consequência temos o afastamento do homem da sua essência humana, a ponto de o homem se deixar dominar e ser limitado por sua própria invenção.

Segundo o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), o utilitarismo exacerbado da modernidade converte em destino o acontecimento de que o mundo suprassensível, as ideias, Deus, a lei moral e a civilização, perdem sua força construtiva e se anulam. O homem passa a ocupar o lugar de Deus e cria conforme sua utilidade. 

 

O sujeito não tem mais importância, perdeu o sentido de essência e passou a ser denominado e definido por números e fórmulas.  A humanidade matou Deus, Ele é substituído, Deus passa a ser o próprio homem. E esse é capaz de fazer tudo, o homem se torna seu próprio destruidor. A criação o homem novo, como bem exemplificado no filme “Frankenstein”, aterroriza o criador. O criador não sabe o que fazer com a sua criação.



Na nova era Deus não é criador, não é transcendente, mas sim uma energia, uma unidade cósmica. Em épocas de crise há sempre um público ávido de respostas para seus problemas angustiantes. Frequentemente, tais explicações ou respostas usam a vulgarização científica, isso porque o homem precisa diminuir toda a magnitude do incompreensível a patamares e linguagens que ele compreenda, e a ciência desenvolve bem esse papel.

O homem procura sempre encontrar uma resposta entre ciência e misticismo, porém, não a encontra e percebe que nesse jogo as religiões satisfazem com mais simplicidade seus anseios, isso porque exercem menos coerções e exigem menos compromissos pessoais e comunitários. Aparentemente, há uma enorme liberdade, cada indivíduo  se sente completamente à vontade para agir do modo como bem entender e acaba se tornando uma ideologia individualista, onde cada indivíduo constrói a sua própria religiosidade.



 

Em sua visão Luc Ferry explora a ideia de transcendência a partir do sagrado. O sagrado é o limite que não se pode ultrapassar sem entrar na esfera do mal. O sacrifício, o sofrimento faz com que os valores sejam experimentados e leva a transcendência. Por outro lado na visão de André Comte-Sponville a relação com o sagrado não passa de ilusão. As verdades não são absolutas, mas sim relativas. Para Heidegger, só podemos atingir a dimensão da verdade do ser quando compreendemos o homem a partir de sua ex-sistência para podermos, então, perceber como o ser requisita o homem. A decadência do homem ocorre segundo Heidegger , pelo esquecimento do ser.